ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS

1.   Argumentação por causa/consequência (Raciocínio lógico)
Uma maneira eficaz de defender um ponto de vista é explicar os motivos que levaram você a posicionar-se daquela forma. Esse é um dos tipos de argumentos mais freqüentes e eficazes, visto que argumentar é, justamente, dizer os porquês que sustentam sua tese. Veja o trecho abaixo, retirado do artigoPor um país da mala branca”, de Mauro Chaves.

que os valores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento), é preciso buscar novas formas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa precária coesão social. E que nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas), façamo-la, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos.
Recente moda futebolística pode-nos apontar o caminho dessa transformação, que troca a sanção pelo estímulo e a punição pela perda de vantagem. É a chamada prática da "mala branca", pela qual um clube paga a outro para que este ganhe. É claro que isso nada tem que ver com o suborno da "mala preta" - a execrável compra de goleiros, zagueiros e outros de um time para que deixem a bola passar e percam o jogo. A "mala branca", ao contrário, é um saudável incentivo para que os profissionais do esporte ajam corretamente, isto é, esforcem-se ao máximo para ganhar um jogo.

Logo no primeiro parágrafo, o autor explicita nos seguintes trechos a tese que defende: “é preciso buscar novas formas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa precária coesão social” e “façamo-la, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos”. Segundo o autor, para tornar a lei mais eficiente, é preciso substituir práticas punitivas por incentivos a quem cumpre os regulamentos.
Para sustentar essa tese, lança mão no mesmo parágrafo de dois argumentos de valor causal: “os valores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento)” e “nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas)”. Veja que ambos os argumentos expressam os motivos pelos quais o autor adota sua tese; logo, são introduzidos por um conectivo que expressa relação de causa (“ que”), como você viu na lição sobre coesão textual.
No entanto, na hora de produzir seu próprio texto, tome cuidado para não expressar uma falsa relação de causa/consequência entre ideias que são apenas próximas, mas não desencadeadoras uma da outra.

2.   Argumentação por exemplificação
Um exemplo sempre traz força à argumentação, pois mostra casos reais em que a tese se prova verdadeira. Nesse sentido, é muito importante selecionar exemplos fortes, preferencialmente de conhecimento geral ou surpreendentes. Um exemplo mal escolhido, por ser pouco representativo, por exemplo, pode suscitar no leitor desconfiança e uma forte contra-argumentação.
Veja abaixo, em um trecho da reportagem “Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?”, de Sérgio Pires, como a exemplificação foi empregada para defender determinado ponto de vista.

Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?
anos o assunto é motivo de discussões. Nessa semana, de novo. O professor do Instituto de Computação da Universidade de Campinas, Jorge Stolfi, disse em audiência na Câmara Federal que as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: que o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro candidato sem que a fraude seja detectada. Lembrou que vários paísesEstados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outrosnão utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque detectaram que elas não são imunes ao que chamou de “riscos incontornáveis” de fraude. Destacou que a única maneira de fazer com que o sistema seja totalmente seguro é adotar o voto impresso, como maneira complementar para a segurança da votação. O professor afirmou ainda, contrariando técnicos dos TREs e do próprio TSE, quesérios riscos “de fraudes feitas por pessoas internas ao sistema, que não podem ser detectadas antes, durante ou depois da eleição". E agora, José?

Jorge Stolfi manifesta claramente seu ponto de vista no trecho “as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: (...) o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro candidato sem que a fraude seja detectada”. Para defender essa opinião, utiliza como argumento exemplos de países que discordam do sistema de votação eletrônica: “vários paísesEstados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outrosnão utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque detectaram que elas não são imunes ao que chamou de ‘riscos incontornáveis’ de fraude”.
Perceba que o professor do Instituto de Computação da Universidade de Campinas foi cuidadoso na seleção dos países que empregou para respaldar sua tese: Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra são todos países desenvolvidos que têm organizações políticas democráticas mundialmente reconhecidas.

3.   Argumentação por dados estatísticos (Provas concretas)
Para provar o que se diz, dados estatísticos são comumente utilizados, visto que são fruto de pesquisas feitas por órgãos de reconhecimento público. É preciso tomar cuidado, no entanto, para selecionar quais dados serão usados, citando a fonte de que foram retirados.
Veja abaixo como o uso de valores numéricos calculados por agências especializadas foi usado no artigoMulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorar em 2009”.

Mulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorar em 2009
De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, a pedido da agência de publicidade 141 SoHo Square, as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%.
Além disso, a pesquisa intitulada "O Sonho é maior que o medo - Panorama sobre o comportamento de compra das mulheres brasileiras" apurou que 41% das mulheres da classe C e 36% da D avaliam que a economia brasileira está sólida, mas vai sofrer o impacto da crise.
Na opinião do presidente da agência que encomendou o estudo, Mauro Motryn, os números mostram que as mulheres de menor poder aquisitivo parecem não querer acreditar na crise. "Elas estão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora (...) Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando."

Mauro Motryn tem um ponto de vista claro diante do comportamento das mulheres das classes C e D em relação à crise econômica: "Elas estão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora (...) Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando." Para justificar esse posicionamento, o presidente da  agência de publicidade 141 SoHo Square baseia-se em dados estatísticos de pesquisa que encomendou ao IBOPE, segundo a qual “as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%”.

4.   Argumentação por testemunho de autoridade (Argumento de autoridade)
Nos textos de escrita acadêmica, é muito frequente que, para respaldar uma tese, um autor se refira a pesquisas anteriores, de outro pesquisador. Para isso, cite a fonte de onde retirou a citação empregada em seu texto, tendo cuidado de empregar como argumento as palavras de alguém reconhecido como profundo conhecedor da causa discutida.
Veja abaixo como esse recurso foi empregado na argumentação do artigoProdução científica no Brasil sobe, mas não o número de patentes”, do qual transcrevemos um trecho a seguir.

A produção científica brasileira subiu de 2006 para 2007 e representa 2,02% de todos os artigos científicos publicados no mundo, mas esse conhecimento ainda não se traduz na prática. Quando se analisa o registro de patentes nos Estados Unidos, o índice brasileiro é próximo a zero.
"O Brasil está muito atrás de outros países que até produzem menos artigos científicos. Dificilmente um País que produz ciência não faz as duas coisas. Todos têm ciência e patentes, mas não é o caso do Brasil", disse Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes).

O autor do artigo, em sua argumentação, denuncia o baixo número de patentes registrado no Brasil, apesar da alta produção científica. Para defender essa tese, clara logo no primeiro parágrafo, o autor se vale das palavras de uma autoridade no assunto, Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). A própria instituição por ele presidida é reconhecida internacionalmente como referência no que diz respeito à pesquisa científica.

5.   Argumentação por contra-argumentação
Muitas vezes, ao redigir um texto argumentativo, você imagina quais serão os possíveis posicionamentos contrários de alguns leitores. Para fortalecer sua argumentação, você pode citar essas visões diferentes da sua e contrapor-se a elas, utilizando o que chamamos de contra-argumentação. É preciso tomar cuidado, no entanto, para refutar com consistência os argumentos que se opõem à sua tese, ou seu posicionamento pode perder credibilidade.
Observe o trecho abaixo, retirado do artigoCrise e poder”, de Rubens Ricupero, e atente para o uso que o autor fez da contra-argumentação para respaldar sua tese.

A crise econômica é também uma crise da globalização. Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização. Ora, o que vimos é que esta foi de fato responsável pelo contágio da doença. O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros.
A primeira conclusão, portanto, é que, apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Estado-Nação, cujo poder em relação ao mercado e à sociedade é reforçado pela crise.
                                            

A tese central defendida pelo autor no trecho analisado é que, “apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Estado-Nação”. No entanto, para chegar a essa afirmativa, o texto parte de uma ideia contrária a ela: “Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização”.
Veja que essa ideia contrária à tese foi introduzida pela expressão “dizia-se”, a qual não define quem é que dizia que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização. O agente responsável por essa ação não pode ser identificado no texto. o que sabemos é que não se diz mais isso; chega-se a tal conclusão pelo tempo do próprio verbo em “dizia-se”.
É importante perceber que a oposição entre essa afirmativa inicial e a tese defendida pelo autor não torna o texto contraditório. Na verdade, para fortalecer sua argumentação, o autor afirma algo que era dito antigamente para logo rechaçar essa ideia, na frase: “O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros”. A palavraporém”, conectivo de oposição (conforme você estudou na lição sobre coesão textual) introduz uma ressalva à ideia inicial do texto, dando suporte à tese defendida pelo autor.
Tema: Vestibular, um mal necessário.
Tese: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economicamente.
Raciocínio lógico: Os candidatos que estudaram em escolas com infraestrutura deficiente, como as escolas públicas do Brasil, por mais que se esforcem, não têm condições de concorrer com aqueles que frequentaram bons colégios.
Contra-argumentação: Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de condição econômica inferior, evidenciando a inclusão social tão desejada por grande parte dos brasileiros, o problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo grau, comprometeria o ritmo do curso superior.
Conclusão (síntese): As diferenças entre as escolas públicas e privadas são as verdadeiras responsáveis pela seleção dos candidatos mais ricos.

Atividade 3
A atividade a seguir deve ser feita antes de você prosseguir na aula. Caso você não consiga resolvê-la, retome a leitura do conteúdo a que ela se refere.
Agora é a sua vez de redigir parágrafos argumentativos! Siga as instruções abaixo e lembre-se do que você estudou na lição sobre estrutura geral dos parágrafos.
1.               O tema dos parágrafos será a implantação da Lei Seca. Portanto, antes de redigi-los, opte por uma tese, posicionando-se a favor ou contra a legalização desse tipo de punição no Brasil.
2.               Agora que você optou por uma tese, escreva cinco parágrafos argumentativos que a sustentem, empregando, respectivamente: a) causa/consequência; b) exemplificação; c) dados estatísticos; d) argumento de autoridade; e e) contra-argumentação.


POSSÍVEIS RESPOSTAS

·  Atividade

a) A despeito das discussões sobre direito à liberdade de consumo, a redução do limite de álcool permitido no sangue de motoristas tem de ser encarada como uma decisão razoável do governo. Afinal, há que se considerar, sobretudo, o principal motivo que conduziu à adoção de tal medida: o automóvel, veículo criado no século XIX para servir ao homem como meio de locomoção eficaz, tornou-se arma nos séculos XX e XXI graças à sua associação com o consumo de bebidas alcoólicas.

b) Além da clara redução dos mortes de acidentes de trânsito, a implantação da Lei Seca traz consequências benéficas a reboque, como, por exemplo, a diminuição dos valores de apólices de seguros. Havendo menos acidentes, as seguradoras poderão oferece valores mais baixos para seus clientes, atingindo até 10% de redução, o que pode, inclusive, aumentar o mercado consumidor desse tipo de serviço.

c) A adoção da Lei Seca no Brasil revela uma prudente preocupação diante da forte relação entre alcoolismo e acidentes de trânsito. No primeiro mês após a implantação da lei, o IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo registrou uma redução de 63% no número de óbitos causados por acidentes de trânsito. De modo semelhante, dados do Ministério da Saúde garantem que os resgates do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) caíram em 24% desde o início da nova legislação.

d) Com a alteração no código de trânsito que baixa para dois decigramas de álcool por litro de sangue o limite tolerado por lei, o governo Lula conseguiu implementar uma drástica redução nos índices de acidentes de trânsito. Segundo Flavio Adura, presidente da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), “A lei evita que, diariamente, cinquenta pessoas morram, que trezentas fiquem feridas e que cento e vinte fiquem com alguma sequela. São duzentas internações hospitalares a menos e uma economia diária estimada em quarenta e cinco milhões de reais".

e) Muitos alegam que a redução do limite de álcool permitido no sangue de motoristas é uma medida descabida do governo, visto que acarreta redução de lucros para donos de bares e consequente desemprego. No entanto, é improcedente tal colocação, visto que essa mesma lógica conduziria à conclusão de que é necessário que haja mais acidentes para que mais profissionais da área de saúde possam estar empregados.


Fonte original: 
  1. professorvotre.pro.br/aulas/ARGUMENTACAO.doc